sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Aventura Fittipaldi

Olhando com mais atenção nossa história, vamos encontrar brasileiros geniais e empreendedores. Sujeitos ousados diante do seu tempo. Em vez de "protestos" e discursinhos rancorosos contra o sistema, quase de forma silenciosa foram à luta. Deixaram um legado incomparável e incontestável. Em cada área vamos encontrar o gênio de um setor. Barão de Mauá abriria a lista de muitos que 
poderíamos com certeza incluir Amador Aguiar, Roberto Marinho, Silvio Santos e Antonio Ermírio de Moraes em se tratando de redes de comunicação e setor industrial. Nos esportes, prefiro entender que a família Fittipaldi deixou um legado para a história do automobilismo brasileiro que com certeza, jamais será superado. Emerson talvez tenha reunido em torno de si toda essa expansão. Só mesmo um gênio das pistas poderia no auge de sua carreira, trocar o conforto de um bi campeonato de Fórmula 1 e partir para um projeto quase insano para época. A construção de um carro e uma equipe de F1 genuinamente nacional. E assim a família Fittipladi partiu para esse projeto em 1974. A despeito dos críticos da época e os tantos problemas surgidos, os feitos do projeto são admiráveis. Emerson não ganhou corridas com o Fitti FD como cansou de fazer na Lotus e McLaren. Tão pouco foi campeão pela categoria Top do automobilismo mundial. Mas abalou o circo da Fórmula 1 mostrando inovações técnicas. Busquei pra resumir nos arquivos da Revista Racing e um livro do Luciano Pires (Brasileiros Pocotó), os dados sintetizados abaixo:
Equipe Copersucar Fittipaldi - 8 temporadas na Fórmula 1
Total de pontos da equipe = 44 
Melhores posições: 1 segundo, 2 terceiros, 5 quartos, 4 quintos e 7 sextos.
Detalhe: A Williams campeã por vários anos e ainda hoje na categoria somou na mesma época 21 pontos
Mundial de 1978 = Somou 17 pontos. Ficou na frente da McLaren, Willians, Renault e Arrows.
1980 = A Fittipaldi ficou 11 pontos à frente da Ferrari e Alfa Romeo.
É parte dos grandes feitos da equipe de Emerson e seu irmão Wilson. Mas apesar disso, em 1983 por falta de apoio e patrocinadores a equipe fechou. Nomes famosos fizeram parte do time. Keke Rosberg por exemplo, pilotou pela equipe e no ano seguinte foi campeão pela Williams. Hoje seu filho Nico é piloto da Mercedes. Adrian Newey foi projetista na equipe de Emerson. Hoje é o responsável pela imbatível Red Bull. Mas o que importa é o legado deixado. Emerson com o fim da equipe foi para os EUA e foi campeão pela Indy. Um gênio dentro e fora dos carros. Orgulho nacional. 

Memórias do Gomes. Parte 3

Jornal Diário do Povo, fevereiro de 1976. Na volta as aulas, minha chegada na 5ª série com direito a foto na capa do jornal. Flagrado prestes a "tomar uma caneta" na quadra do meu então amigo Carlos.
Uma das ruas laterais da escola Carlos Gomes, a Rua General Osório abriga um grande centro comercial. Nos idos anos 70, em início de ano letivo, lá iam "procissões" de mães rumo às papelarias e livrarias comprar o "arsenal" do material escolar. Nada do governo ajudar como nos dias atuais. Ganha-se de tudo hoje. Livros, mochilas, kit de material escolar completo com cadernos, lápis, borracha, compasso, cola e até livros de literatura. Sem contar Passe Escolar, Passe Gratuito e merenda. Mas naqueles anos, eram os míseros trocados dos pais que subsidiavam, às vezes a prestação o material a ser usado no ano. Voltando a General Osório, a papelaria mais famosa e central era a Nossa Casa. Hoje no mesmo endereço existe comércio similar, mas com outros proprietários. Lá fui eu em uma perdida tarde de março de 1976 com minha mãe. Estávamos munidos da lista que a escola pedira e a desconfiança que a tal "inflação" talvez não permitisse muito luxo no material. Me lembro que o comércio estava lotado. Gente pra tudo quanto é lado. Filas para fazer o pedido. Filas para pagar no caixa. Aliás, os donos lá ficavam. Eram dois sujeitos obesos. Mas obesos mesmo. Suavam às bicas apesar dos ventiladores voltados para suas cabeças. O calor forte do verão não perdoava. Eu paquerava as mochilas mais legais. Eram as que traziam desenhadas os carrinhos da Matchbox (se fosse hoje, Hotwells). Mas eram caras! Desejava um estojo todo bacana de madeira com divisórias internas para o apontador, a borracha, os lápis, os de cor enfim. A tampa tinha um desenho de um barco todo estilizado pra corridas aquáticas. Tinha outro que era uma foto de um dragster! Ah! Como desde essa época eu adorava os carros! Mas tudo muito caro. Todo ano era a mesma coisa. Ficávamos horas para sermos atendidos. Mas neste ano de 1976, ficou na minha lembrança. Depois de separar o material, feitas as contas, fomos para a fila do caixa. Me lembro que um daqueles gordos (ah! desculpe, obesos), chamou minha mãe e tascou: "Oitenta e dois Cruzeiros dona!" Minha mãe meio que sem jeito ficou muda por instantes. Olhou para trás, calculou a fila que a espreitava e tentou: "Ihh moço, só tenho oitenta, posso pagar o resto depois?" Minha memória deletou o que o sujeito respondeu pra minha mãe. Mas foi algo ruim e indelicado que me fez dizer na hora: "Gordo filho da p@#*a, minha mãe disse que depois dá o dinheiro!" Não houve jeito. Além de não ceder na proposta de minha mãe ele recuou na venda depois do meu comentário. Me lembro que ela chorou neste dia. Um desapontamento de mãe, talvez com vários motivos. Pouco dinheiro, altos custos para me manter estudando e porque não a "boca suja" do filho! Foi meu pai, na época um metalúrgico que foi lá e resolveu a parada. Pagou a vista o material e reafirmou do jeito dele o que o filho dissera um dia antes. E que não justificava a recusa da venda, já que todo ano comprávamos lá. Detalhe. Na época não havia Procon, mas meu pai carregava na Kombi algo que talvez tivesse maior efeito. Um "senhor" facão que era usado apenas para os serviços braçais. Mas duvido que não fizesse as vezes de um Serviço de Atendimento ao Consumidor. Meu pai era meio "estourado", mas sempre dentro do que ele denominara "estar na razão." Aquele ano, aquela quinta série foi talvez o ano mais delicioso de escola. Quanta coisa legal pra um adolescente dos anos 70! Surgia a Disco Music, a Globo lançava a primeira versão do Sítio do Picapau Amarelo, aos sábados não perdíamos um episódio de Harold LoydStar Lost, série sobre espaço nunca mais reprisada. Nas aulas muitas novidades, vários professores novos e as meninas! Ah! As meninas...Nas bancas de jornal era mania a compra de times de futebol de botão em envelopes como se fossem figurinhas. Criávamos torneios na escola e brincávamos nos finais de semana. Se dentro dos muros da escola Carlos Gomes, havia o acesso para o conhecimento, foi nas ruas envolta dela que fatos como o vivido na papelaria Nossa Casa que nos fez compreender que entrávamos na adolescência.
Ah se essas salas falassem. Quanta bagunça e paquera naquela 5ª série à tarde....

quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Boxe, cinema e vidas nocauteadas!

Produzi uma série de textos sobre Boxe e Cinema em meu antigo blog donideias009, como já explicado tirados do ar juntamente com todos os outros blogs, administrados pelo portal IG. Parte dos textos eu tinha backupeado. Outra, como é o caso deste post, os reescrevo, como condição inegociável de eternização de tudo que aprendi sobre o tema.
As glórias do boxe ocultam a face mais cruel da vida de seus lutadores. O nocaute vem no round da idade e do esquecimento.

É óbvio que toda manifestação de violência tem uma natureza assustadora, por quem preza o bom senso e a passividade nas relações humanas. Principalmente quando tais "espetáculos" são eternizados pelas artes. O boxe enquanto esporte, apesar dos brutais contatos físicos, ganhou ao longo do século XX, um certo glamour. Os punhos de grandes nomes foram eternizados nos anais da História. Mesmo o mais alienado da área ouviu em algum momento de sua vida, nomes como Muhammad Ali, Jack Johnson, Rocky Marciano, Rocky Balboa, Foreman, Hollyfield, Lennox Lewis e Mike Tyson.  Mas o reconhecimento de seus jabes, cruzados e nocautes vieram com a mesma velocidade com que repercutiram suas sofridas vidas. Mesmo em períodos onde os meios de comunicação não tinham a mesma rapidez dos dias atuais. Os conflitos religiosos de Ali, os problemas com a máfia dos lutadores famosos da primeira metade do século XX até os crimes punidos com prisão de Tyson, não faltam episódios. Robert "Rocky" Balboa, ao contrário do que muitos imaginam, não foi apenas um personagem de franquia levada aos cinemas por Sylvester Stallone. Balboa de fato existiu. Talvez no espírito de Rocky, uma centena de boxeadores tenham alternado suas vidas pelos ringues e em trabalhos pesados. Ajudantes em todas as profissões. Essenciais a si mesmos entre as cordas dos ringues. Os 6 filmes sobre Balboa renderam milhões de dólares a Stallone e segue uma cronologia de vida de um boxeador que sai do anonimato de um sombrio bairro da Filadélfia dos anos 70, vive seu auge nos anos 80 e entra em franca decadência nos anos 90. A finalização da série se dá com o lutador sexagenário, dono de um restaurante na periferia da mesma Filadélfia. Esquecido e doente, é manipulado pelos agenciadores de lutas, patrocinadores e por uma legião de párias que sempre ganharam muito dinheiro com o esporte, sem nunca terem pisado num ringue. Dinheiro, família, religião e conflitos sempre acompanharam a vida dos boxeadores famosos. Muhammad Ali, além de grande habilidade nos punhos, tinha uma língua feroz. Contestou fora das cordas seu ódio pelo racismo, seu inconformismo com a Guerra do Vietnã, tornando-se um ícone não apenas dos esporte mas da política do seu pais. "Nenhum vietcongue me chamou de crioulo, porque eu lutaria contra ele?". Poderia haver protesto maior contra o conflito? Sim, na recusa do alistamento para ir à guerra. Outro feito de Muhammad Ali. A luta do mesmo no então Zaire contra George Foreman foi outra grande manifestação política de Cassius Clay (nome real de Ali antes de sua polêmica conversão ao Islã). A luta contra Foreman em terras do continente africano, abriu uma fase de compreensão dos conflitos raciais nos EUA, mais tarde denominado pan-africanismo. O documentário "Quando Éramos Reis" (1974) é obrigatório para qualquer estudo que faça a fusão do boxe, da política e da personalidade de cada lutador. A imagem que ilustra este post, logo acima, trata de outra produção dos cinemas que busca no boxe novas dimensões para o que tratamos até aqui. Um repórter Erik envolve-se na vida de um homeless (sem-teto). Surge na mente do repórter o deslumbramento de em suas pesquisas a descoberta de que o indigente seja Bob Satterfield, uma lenda do boxe, que todos acreditavam estar morto. A imersão na vida do provável boxeador resgata para o repórter possibilidades de produzir uma grande matéria, resgatando a história de um campeão. O fascínio mescla-se com a farsa e com a idealização de que todo boxeador famoso termina seus dias após os maiores nocautes de suas vidas. O da idade e do esquecimento. Mas tais caminhos não são monopólio apenas dos boxeadores. Atingem também as vidas de pessoas "normais" como Tommy Kincaid, que um dia sonhou com os louros e as fortunas do boxe. Mas, encontrou a crueldade das dificuldades típicas a qualquer ser humano.

segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Sem dúvidas no ar (Futebobos 16)

O texto abaixo foi postado em meu antigo blog, o donideias009, em 12 de junho de 2010. Portanto, no início da Copa da África. A do Brasil está às portas. O tema no momento, também ressurge após as trágicas imagens da selvageria do jogo entre o Atlético Paranaense e Vasco da Gama em Joinville (SC). De tudo que acumulei de leituras sobre as atitudes pernósticas do futebol, aqui vou escrever com todo gosto.
Ah! Não vejo a hora da Copa começar! Afinal não basta ser feito de otário só com impostos, péssimos serviços públicos, violência....
Faço parte do zero vírgula zero “alguma coisa” por cento, que não dá a mínima para futebol e tão pouco Copa do Mundo! Sendo assim, na atual conjuntura sou classificado pelo senso comum reinante nestas paragens tupiniquins, “do contra“, “chato“, “não patriota” e outras bobagens! Futebol é uma das poucas coisas que na vida “desaprendi” a admirar e gostar. Poderia aqui contar mil historinhas de vida que provariam ao caro leitor, que futebol é algo muito irrelevante para mim, mesmo em épocas de jogos da seleção válidos para a Copa do Mundo! As melhores lembranças que tenho do futebol vem na realidade das maravilhosas crônicas de Nelson Rodrigues. Escritor, dramaturgo e jornalista escreveu as principais obras do gênero; “À Sombra das Chuteiras Imortais“, “A Pátria em Chuteiras“, “Fla-Flu e as Multidões Despertaram.” Torcedor e cronista do futebol, traduziu como ninguém a “neuras” que domina o povo em épocas de Copa do Mundo. Assim ele escreveu “A Pátria em Chuteiras”; “A partir do segundo gol, algo mdou no destino do Brasil. Este começou a ser uma grande potência. E, hoje, acordamos, todo com a fronte erguida e fatal dos profetas. Neste momento, a crioulinha, a favelada e descalça, tem um halo de Joana d’Arc. E o brasileiro pé rapado, mais borra-botas, enrola-se num manto como um Rei Lear.”(Fatos & Fotos, 16/06/1962) Desta forma comentou um jogo da seleção brasileira na Copa de 1962. Descobri então que há vida inteligente neste país, mesmo vindo do futebol!