sábado, 3 de março de 2012

Feridas

Zeca Baleiro já citado neste blog, um compositor ímpar da nossa "pobre" MPB contemporânea, compôs e canta Minha Casa, música do seu terceiro álbum, Líricas. Veja que belo!
É mais fácil cultuar os mortos que os vivos,
mais fácil viver de sombras do que sóis,
é mais fácil mimeografar o passado
do que imprimir o futuro,
não quero ser triste
como o poete que envelhece
lendo Maiakóvski na loja de conveniência
Assim meu consciente processou uma alternativa trilha sonora durante e ao final do Tão Forte, Tão Perto, de Stephen Daldry, em cartaz nos cinemas desde a última sexta 24 de fevereiro. Além de Tom Hanks e Sandra Bullock no elenco, o filme revela Thomas Horn, no papel principal de um órfão de pai após os trágicos acontecimentos de 11 de setembro de 2001 nos EUA. Os estadunidenses sempre tão aptos a resgatar fatos históricos em versões tão impactantes no cinema, parecem silenciados com relação a onda terrorista que assolou o país em 2001. Poucos filmes retomam os fatos deste dias. O filme Tão Forte, é uma adaptação a partir do livro Extremamente Alto & Incrivelmente Perto de Jonathan Safran Foer. Um garoto típico novaiorquino é dispensado das aulas numa terça feira, onde fatos horríveis assolam sua cidade. Custa para Oskar entender que seu cultuado pai é uma das vítimas que provavelmente saltou do 106° andar de uma das Torres Gêmeas em chamas. A tragédia se segue nos anos posteriores com as dores típicas da ausência, das culpas pelo não vivido e uma misteriosa chave que deve conter um dos segredos paternos cravados na própria cidade. Um filme triste e intimista. O garoto parece vítima de inúmeros transtornos mentais e emocionais. Acelerado, incontido e triste, "rasga" a cidade e os sobreviventes em busca da solução do mistério da chave. No fim, percebemos que o 11 de setembro é um pano de fundo. Não são necessárias grandes explicações e muitas imagens. Este triste dia parece gravado em nosso inconsciente e as tais feridas vão além da tela do cinema.


domingo, 26 de fevereiro de 2012

Se algo pode, então vai dar mer....

Uma das maiores peculiaridades da rápida evolução do homem no planeta, foi sua capacidade de adaptação a praticamente todos os ambientes que lhe foram oferecidos pela Mãe Natureza. Os que não foram, o homem se encarregou de criar por conta fazendo uso e abuso de outra peculiaridade humana, a sapiência (inteligência). Voar a alturas inimagináveis sem asas, submergir as maiores profundidades sem pulmões preparados, correr além dos limites do próprio físico, enfim o homem coleciona barreiras naturais derrubadas pela força mental. Agora é óbvio que uma vez não natural, é esperado que em algum momento as coisas talvez não deem tão certo como se imaginou em qualquer planilha técnica. Se até os pássaros de vez em quando tem lá suas quedas, o que imaginar do homem sem asas? Se até os peixes e todas as outras formas de vida marinha de vez em quando tem lá suas limitações e falhas naturais, quanto mais o homem, que apesar de originário também da água se adaptou mais na superfície? Só desta forma consigo entender a tragédia do último dia 24 no parque Hopi Hari. Pior do que a vítima cair dos 30 metros  foi o fato de ser "arremessada" desta altura o que talvez tenha dado um impacto três vezes maior do que o natural. Confesso que nunca simpatizei com esses brinquedos radicais em parques de diversão. E por ser hipertenso, passo até longe deles! Creio que desde que os conheço, o número de acidentes até que foi pequeno mediante o perigo que representa. Não se trata aqui de discutir um eventual mal funcionamento ou falha humana. Penso  na própria ousadia do homem em desejar superar o que naturalmente jamais o faria, estar a causa real de todas as tragédias conhecidas. Se pode acontecer, vai acontecer! . Sei que esse "filosofar" é inútil diante de uma vida tragicamente perdida. Mas que cada um de nós reflita sobre esse "aviso!" 

Dama da História

Às vésperas da Revolução Cubana (1959), o então comandante Fidel Castro, após frustradas tentativas de derrubar o então presidente Fulgêncio Batista, foi preso e em seu julgamento, advogando em causa própria, proferiu um dos mais conhecidos bordões da política contemporânea; "a História me absolverá..." A lembrança foi mais do que presente quando as luzes do cinema se acenderam com o "the end" do belo Dama de Ferro (The Iron Lady, 2011, direção Phyillida Lloyd). Alternando as crises de alucinações, solidão e todos os limites que a idade e a aposentadoria trazem com o vigor idealista e político de Margareth Thatcher, o filme é uma excelente aula de História para as novas gerações que desejam entender as crises econômicas atuais na Europa. Numa Inglaterra conservadora, Thatcher chega ao poder máximo derrubando desde o machismo secular do poder inglês até as ultra potências de esquerda então nos anos 80 postados no Trabalhismo britânico. A Dama de Ferro, assim "titulada" pelos soviéticos foi para a guerra, literalmente contra os gastos excessivos do estado, contra os aventureiros argentinos nas Malvinas e até no seu alinhamento com os Estados Unidos, então comandando pelo não menos polêmico Ronald Reagan. Atento aos diálogos percebe-se ao discurso premonitório da quebra da Grécia e na falência do estado de bem estar social europeu. Há falas do tipo "tudo deve ser pago, nada de graça, se não as pessoas não dão valor..." Sua queda após dez anos de poder (1979 - 1990), começou na resistência com o que hoje cada europeu tem pesadelos, a própria União Européia. De fato, a História deu razão a Margareh Thatcher. Agora, a interpretação de Meryl Streep é um capítulo à parte dentro de outra História, a do cinema.