sábado, 21 de dezembro de 2013

O estraga festa.

De tão "perfeitinha" essa época do ano que sobra espaço para tudo quanto é tipo de caricatura sobre felicidade.
Eis que próximos de mais um Natal, revemos pela "enésima" vez um filme que já conhecemos seu roteiro de tão surrado. E vem as balelas impostas pelo comércio que na ância de faturar o 13° da moçada, diz vender a felicidade sob todos os tamanhos e cores. E vem as religiões trazendo também suas mensagens doutrinárias que trata-se de tempo de "revisão" de vida, amansar o coração e aumentar o dízimo. É assim todo ano! Espalham-se além dos enfeites natalinos, totalmente díspares com nosso clima (neve, trenós, renas, pinheiros), as míseras caixinhas de "Boas Festas" instaladas em balcões de comércios, estacionamentos e botecos. Paro o carro no mesmo estacionamento o ano inteiro. Caixinha no fim do ano? "Fala sério!" "Já te homenageei o ano inteiro," disse ao dono do estacionamento que sem graça, me agradeceu do mesmo jeito. São esses costumes bestas impostos por tantas transposições culturais. Não tenho nada contra o Natal. E também nem a favor. Creio apenas que podemos passar essa época do ano de forma mais comedida. Menos comilança. Menos bebida e menos gastos e dívidas. E também como historiador, não tenho como jogar embaixo do tapete as origens pagãs da festa. Basta meia hora de boas leituras sobre a História da Mesopotâmia e você vai encontrar "links" com o Natal. Divindades totalmente opostas aos símbolos do cristianismo. Nomes estranhos como Marduk, Zagmuk e Saturnais englobam o que existiu de mais pecaminoso do ponto de vista cristão. Bebedeiras, orgias, brigas, glutonarias etc... A entrada de Jesus na História e a absorção de sua vida e exemplos como movimento religioso, transpôs para o Cristianismo como movimento fatos, datas e nomes de diversas culturas, inclusive as pagãs. Bom, de resto todos sabem. O século XX popularizou as festas de fim de ano através de um pesado marketing que descobre a época como uma mina de ouro para ganhar dinheiro. Nos anos 30, uma campanha para a Coca Cola, "avermelhou" a roupa de Papai Noel. Institui-se o 25 de dezembro como data de nascimento de Jesus sem qualquer comprovação histórica. No Brasil, a Rede Globo encarregou-se do resto instituindo os "especiais de natal" com Roberto Carlos e suas campanhas insuportáveis, reunindo artistas dublando (muito mal) o jingle "onde a festa é sua onde a festa é nossa..."
O natal da família Griswold é uma síntese do quanto há de rocambolesco nas festas natalinas.
Além dos livros, minhas referências vem do cinema! E sobre natal há uma filmografia infindável. Mais recentemente O Grinch (2000) de Jim Carrey trouxe a tona o "azedume" da turma que não gosta do Natal. Mas é óbvio que os lacrimejantes; Uma História de Natal (1983), "Milagre da Rua 34" (1994) e A Felicidade Não se Compra (1946) se ajustaram mais ao tema preservando os tais valores fraternos que transformam as pessoas nesta época. Citaria uma bela crítica ao consumismo desenfreado da época com Um Herói de Brinquedo (1996) com Schwarzenegger numa comédia impagável. O período do natal é citado em muitos outros filmes. De forma ordinária e ácida, sugiro Parente é Serpente, comédia italiana de Mauro Monicelli (1992). Família toda problemática, resolve a causa de todos os seus problemas mandando-os pelos ares (literalmente). Mais recentemente vi pela tv a cabo, Surpresas do Amor com Vince Vaughun e Reese Whiterspoon onde o Natal de fato, é uma época suscetível a desmascarar os pretensos encontros familiares para brindar a data. Mas entre dezenas de títulos, há um que na minha opinião se supera a cada vez que revejo. As imagens deste post já adiantaram. Férias Frustradas de Natal (1989), é uma síntese do que pode significar em seu contexto mais próximo o tal Natal. Chevy Chase é um impagável pai de família que tenta a todo custo proporcionar a mulher, filhos e parentes a "autêntica noite de natal da família americana." E sucedem-se as mais estrambelhadas situações que oscilam do absurdo ao neorealismo destes tempos. Tudo ali é acidamente criticado no roteiro escrito por John Hughes, baseado em seu próprio conto para a revista americana National Lampoon, Natal '59. Tudo dá errado. A ceia, as 25 mil lâmpadas que decoram a casa dos Griswold, os parentes, os presentes e o bônus de natal de Clark (Chase) que não chega e desencadeia até a intervenção da SWAT em seu tresloucado Natal. Além de rir muito, é possível entender nas entrelinhas que o maior valor do dia está aquem de tudo que foi criado para torná-lo tão importante. Na cena final do filme, Ruby Sue, a sobrinha de Clark descobre no céu luminoso a estrela do Papai Noel. Clark responde: "Não é a estrela do Natal e é só o que importa essa noite, nada de grana, nada de presentes, luz ou árvores. Vejam crianças! Significa algo diferente pro mundo todo. E agora sei o que significa pra mim. Tio Lewis interrompe o discurso: "Não é nada de estrela do Natal e sim a luz da estação de tratamento de esgotos...!" Se já viu o filme sabe o contexto, né? Se não, veja o final "explosivo" do natal dos Griswold.

quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

Professor ignorante

Clássico contemporâneo para leitura obrigatória dos professores. Mas é um ilustre desconhecido.

"Na escola platônica, o estudante não adormecia antes de repassar de memória todos os atos e pensamentos do dia, de modo, a não esmorecer no seu empenho de autoconsciência ; e na manhã seguinte se aparecesse despenteado ou mal vestido, não era admitido em classe: a ordem no interior da alma devia refletir-se numa aparência física limpa e saudável." Fragmento da obra de Olavo de Carvalho, O Imbecil Coletivo II, 1998, página 156. Pois bem caro leitor, pensando na citação fiz a transposição da alegoria do aluno grego na Antiguidade para a imagem do professor contemporâneo brasileiro. Algo que sempre incomodou-me enquanto docente, foi frequentar a sala dos professores das escolas em intervalos, saídas e entradas. Poucas ou raras vezes podia dialogar algo que estivesse além do simplismo imbecil que fosse além de futebol, clima, culinária e por vezes até ouvir as mais ignóbeis piadas. Como docente sempre acreditava que era obrigação uma atualização constante na literatura e na conjuntura. "Que nada, sala dos professores é lugar de relaxar!" Bradava as professorinhas empunhando seus catálogos de cosméticos, desodorantes, recipientes plásticos etc. Quando não a receita televisiva de um quitute qualquer impressa em equipamento exclusivo para produção de cópias de provas para os alunos. Me sentia mal. Sempre achei abjeto esse mundo, mas por quase duas décadas foi meu habitat profissional. Das poucas vezes em que fiz tais observações, me tornei o "chato", o "incomodado" e "insociável" mesmo quando queria discutir algo mais "mundano" como um artigo de revista ou um filme nos cinemas. Mas tinha que admitir que as asneiras soltas neste mundinho eram menos penosas que as intermináveis lamúrias sobre a lida na sala de aula. Por quantas vezes sugeri a colegas que desistissem da profissão de tanto que reclamavam. Eis, do meu ponto de vista a miséria intelectual de nossos artífices da Educação pública. É possível entender uma das causas da indigência de desempenho dos alunos, refletido na alma dos nossos docentes, desconhecedores desde tempos remotos as esperanças da escola platônica. Uma alma limpa e saudável, fruto de leituras que subsidiassem um dia a dia menos indigente nas escolas. Das leituras que fiz, a que mais me condoeu de não discutir com colegas de profissão foi a obra do filósofo argelino Jacques Rancière, O Mestre Ignorante, Autêntica Editora, 2002. 
"A ignorância do mestre é da desigualdade. O princípio, a igualdade, é um axioma a ser verificado."
Trata-se de uma obra filosófica que propõe uma emancipação complexa pelo conhecimento. Parte dos relatos de Joseph Jacotot, professor e revolucionário francês exilado em 1818 em razão das efervescências políticas de época. Nos países baixos europeus vive uma aventura intelectual reveladora. Ensinar a língua francesa a um grupo de jovens flamengos sem o mínimo conhecimento do idioma local. Sua ferramenta de interação com os jovens foi uma obra mitológica grega, Telêmaco, que instiga os alunos a uma investigação pelo francês para a compreensão de seus contextos. Enfim, Jacotot, atinge no ápice de sua aventura intelectual o envolvimento pleno de seus alunos pelo idioma francês. Partindo deste ponto Rancière propõe 5 lições sobre a emancipação intelectual. Ao educador contemporâneo é necessário sabê-las. Compreender como um dos fatores essenciais, a nossa plena ignorância sobre as armadilhas nas relações de ensino, quem mal imaginamos. A ignorância de Jacotot foi desconhecer fatores invisíveis no anseio intelectual dos seus alunos. Superou metafisicamente o improvável. Seus alunos aprenderam sem que teorizasse nada. Em nossas escolas brasileiras, docentes mal se comunicam com seus alunos, quanto mais ensiná-los. Me dê outros motivos pela penúria atual. Se há prerrogativas endógenas sobre o aluno na discussão, entendo que o livro é mais que um alerta aos docentes. Sobre o mestre emancipador, Rancière escreve: "Eles (alunos) haviam aprendido sem mestre explicador, mas não sem mestre. Antes, não sabiam e, agora sim. Logo Jacotot havia lhes ensinado. (...) Ele havia sido mestre por força da ordem que mergulhara seus alunos no círculo de onde eles podiam sair sozinhos (...)" A obra é essencial a qualquer educador. Deveria estar nas bibliografias dos concursos de seleção de professores e nas dos cursos de Pedagogia. Um escape ao "paulofreirismo" em voga no país. Muito adequado ao modelo de educação política de esquerda reinante no país a anos e sem qualquer resultado prático! "Mas como admitir que um ignorante possa ser causa de ciência para um outro ignorante?" Para encerrar esse post, reproduzo uma citação interessante do site da Revista Cult sobre o livro de Rancière: 'Em 2002, uma de suas principais obras, O mestre ignorante, foi traduzida e distribuída gratuitamente entre professores em formação no Rio de Janeiro. Trata-se da história de Joseph Jacotot, que, no século 19, ensinou a língua francesa a jovens holandeses da classe operária. Detalhe: nem mesmo o professor conhecia o idioma de Zola."
FONTES:
Carvalho, Olavo O Imbecil Coletivo II ; Rio de Janeiro : Topbooks, 1998.
Diversos Cadernos de Anotações Seminários GEPEC 2003, UNICAMP.
Rancière, Jacques O Mestre Ignorante; trd Lílian do Valle, BH : Autêntica, 2002.


domingo, 15 de dezembro de 2013

Interatividade Reversa (Futebobos - Ed Especial)

Publicado no Facebook 14/12

BOMBA! BOMBA! ESCÂNDALO! Foto antiga revela que blogueiro que escreve contra o "esporte do povo" em posts denominados "Futebobos" jogou em time amador. Teu passado te condena "mané!" Descobrimos! Aproveitamos a puxamos a ficha do sujeito como "atleta". Nome do time que jogou: GRUNE (Grupo Nova Esperança) - Posição: lateral esquerdo - Quantidade de jogos: 1 - Gols marcados: 2 - Ano: 1989, agosto. Segundo nossos cronistas o blogueiro jogou uma partida, "solteiros X casados". Marcou dois gols no "seu" Germano. O goleiro de 60 anos pelo time dos casados. O segundo gol aos 18 minutos do segundo tempo foi de cabeçada. O zagueiro dos casados, seu Manoel foi bater o tiro de meta. Ao chutar a bola, a mesma encontrou a cabeça do nosso blogueiro nervosinho. Dois a zero pros solteiros! kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
Agosto de 1989. Jogo comemorativo do II Encontro de Casais com Grupo de Jovens/Sta Mônica - Clube Particular. "Atleta" circulado na foto é o autor da série Futebobos.
Carregada de ironia, o post acima publicado em uma grande rede social, trás a tona o eixo desta pequena teoria. De onde vem tamanha antipatia por algo que é tão popular? Ainda mais de alguém que se apresenta como esclarecido e definido socialmente como educador. A responsabilidade vem do amadurecimento e da mais "perigosa" das ações na vida de uma pessoa. A leitura. O antropólogo uspiano Luiz Henrique de Toledo, em um dos volumes da coleção Descobrindo o Brasil, define bem em "No País do Futebol (2000)." (...) "E é dessa paradoxal falta de consenso que se articular uma identidade negociada e sempre inacabada, diversa de algo tomado como estático ou universalizante. Mais do que um mero espetáculo consumível, o futebol consiste num fato da sociedade, linguagem franca de domínio público (...) que reencanta a dimensão da vida cotidiana através da estética singular." Trata-se da conclusão do livro. Em busca de uma definição para o futebol, o autor encontra na pluri diversidade de seus conceitos, até a possibilidade de odiá-lo como dimensão compreensiva cotidiana. Em meu caso especificamente, associaria a paixão pelo esporte, por algum time e pela seleção como uma manifestação infantil, imatura e desapegada de um complexo conhecimento de mundo. Ou seja, na medida em que fui me tornando adulto, ganhando gosto pela leitura e pela paixão dos estudos, o futebol inseriu-se numa sub dimensão cotidiana. Flagrando fanatismos diversos de torcedores, a incorporação da corrupção ativa no esporte assim como na política, descobre-se que não há o purismo das cores dos times e tão pouco na singeleza das jogadas dos gênios. Nos anos 80, um escândalo envolvendo arbitragem revelou um esquema vergonhoso de compra de resultados de times do porte do Atlético do Paraná e do Corínthians. E vieram as frescuras dos "gênios indomáveis" da Copa de 1994 como Zagalo e Romário. Do histerismo descontrolado do Galvão Bueno narrando os jogos da seleção. No início da década passada novos escândalos envolveram o Rei Pelé e suas empresas na compra de exclusividade de patrocínios. Bem como as armações da Fifa, então comandada por brasileiros. Ainda segundo Luiz Henrique de Toledo, a intensa massificação do esporte via mídia fez com que; "o futebol se projetasse como um esporte de grande apelo popular." Eis outro ponto de distensão com minha antiga paixão pelo esporte. Brigas e mais brigas entre torcidas. Mortos nos estádios. Pouca ou nenhuma alteração no quadro tendo em vista as cenas chocantes entre o mesmo Atlético do Paraná e o Vasco. Inserido até o pescoço da cultura popular, o futebol deixou-se desnudar na vida pra lá de "profana" de seus ídolos. Na realidade, homens normais que se tornam de um dia para outro, milionários em razão do esporte inebriam-se na doce vida com várias mulheres, carros, fama e baladas. Esse mundo não é o meu. Passei a detestá-lo e faço sim propaganda contra. Da comparação do "Pão e Circo" onde a inconsciência coletiva dos romanos era sim manipulada pelo poder vigente, creio que hoje o brasileiro reconhece também todas essas mazelas do esporte. Não se desvincula pelo fato do tema ser agregador nas mesas de boteco, nos almoços de domingo, nos aniversários de buffet infantil onde a pobreza intelectual e o abandono da escola e dos estudos, permite mesmo apenas esses papinhos furados sobre o que ocorre dentro e fora dos gramados. Fecho este texto com outra citação de Toledo; "É como se ele conferisse à identidade nacional uma marca indelével, inscrevendo no corpo e na alma de milhões de brasileiros seu ritmo e sua temporalidade, sua estética, sua beleza e um determinado sentimento "diagonal" (...) Verdade mesmo Toledo, por essas e outras que somos tão obtusos na compreensão de nosso país. É mais fácil tecer uma teoria de porta de botequim sobre o time "x", "y" do discorrer sobre um teórico, filósofo, historiador ou qualquer outro cientista, porque nunca se leu nada a respeito, pouco interessa e causa um tremendo mal estar. 
O gosto pela leitura e a compreensão madura dos fatos foi o que acendeu meu senso crítico. Não vejo, não torço e não acho nada normal qualquer tipo de "fanatismo" envolvendo coisas do futebol.