Ao rever o excelente filme de Joel Shumacher, "Um Dia de Fúria" (Falling Down, 1993) me vem a mente uma avalanche de reflexões sobre estes tempos absurdamente violentos. Se você ainda não viu o filme, está perdendo a interpretação impecável de Michael Douglas no papel de um desempregado em seu último dia de vida numa Los Angeles abarrotada de contradições sociais, abrindo espaços para a fúria de um homem na busca inútil de retomar sua família. Sua causa é particular, mas tem que lidar com todo tipo de ser deturpado numa colcha de retalhos que contém marginalidade, fascismo, arrogância, prepotência e muita violência. "Todas as coisas me são lícitas, mas nem todas as coisas me convém. Todas as coisas me são lícitas, mas não me deixarei dominar por nenhuma." Está na Bíblia em I Coríntios, 6, 12. Um freio aos tementes. Não o caso de Willian Foster que a partir de um surto nervoso dentro do carro no congestionamento parte para uma vingança pessoal em cada obstáculo que o impede de chegar a festa de aniversário da filha. Quantas vezes, você como eu já tivemos a vontade de partir para as vias de fato com pessoas que nos cortam a fila? Nos fazem de palhaços no comércio com preços abusivos? Já se deparou com situações em que estarem te enganando é tão evidente que ultrapassa as raias do absurdo? A violência tem contornos estéticos também na ignorância humana. A cena em que o personagem de Douglas, por minutos é impedido de comprar seu café da manhã em uma destas lanchonetes fast food, para mim é um clássico do politicamente incorreto. Como uma bolsa cheia de armas de grosso calibre abre portas, espanta a bandidagem, porém cria a falsa sensação de potência permanente! Mas não há como "amar" o questionamento que o personagem faz entre a realidade de um lanche murcho, ridiculamente feio em contraste com a foto que estampam no comércio para nos seduzir. A bandidagem cai aos pés de um homem simples. Um exemplar da new generation pós Guerra Fria. Típico americano que até então era exemplar, sempre fazendo o que lhe mandaram como cidadão. Eis que desempregado responde as camadas sociais parasitas da sociedade de seu tempo, que abrigadas na contravenção e na impunidade tentam impedir seu "ir e vir!" Assim, Willian Foster elimina a arrogância do coreano, a suposta valentia dos pequenos marginais, o neonazista, o milionário arrogante e o funcionário de uma empresa que travou o trânsito sem grandes motivos. Em tempos de extremos absurdos em nosso país, os cidadãos comuns acoados pela violência de todos os lados, o personagem de Douglas aspira desejos ocultos de vingança contra tudo que nos limita a condições de permanência em uma situação de medo. Talvez eu exceda algum limite do bom senso. Mas no Brasil, as grandes mudanças virão das ações dos cidadãos comuns como Willian Foster no filme "Um Dia de Fúria", pela objetividade dos pontos que realmente precisam mudar. As atitudes, sejam no trânsito, no trabalho, na escola, na rua, no comércio e principalmente na política!