sábado, 18 de fevereiro de 2012

"Chutou a cara do cara...'

Concluir a leitura das quase 700 páginas da biografia do Lobão é ter a certeza que o título faz jus a tamanha aventura! "50 Anos a Mil", é a autobiografia de João Luiz Woerdenbag, ou simplesmente Lobão que tem ainda a participação precisa de Claudio Tognolli, um dos mais competentes jornalista investigativos do Brasil atual. Lobão faz parte de um grupo seleto de artistas brasileiros com um potencial a mais. Potencial de pensar e defender suas ideias independentes de qualquer crítica. A saga biográfica descrita por Lobão, contida no livro passa por todas as fases dos cinqüenta anos da vida do cantor. Da infância quase tranquila em um Rio de Janeiro irreconhecível dos anos 50 e 60 passando pela entrada no mundo da música e todas as aventuras e desventuras oriundas deste movimento. Cite-se aí, o envolvimento com as drogas, as prisões, o auge com Vida Bandida, suas "rusgas" com Herbert Vianna, Caetano Veloso, com os fãs do Sepultura e até combates mais vultuosos como o que teve com a ditadura e a indústria fonográfica. As incríveis e impensáveis parcerias com Nelson Gonçalves, Elza Soares, Paulinho da Viola e a escola de samba Mangueira. As ousadas descrições no livro de tais passagens fazem o leitor saltar de uma sensação de dúvida ("como o cara teve coragem?") até concluir que entre tantos fatos absurdos que o "cara tinha razão!" A maturidade dos 50 anos de vida permitiu a Lobão a visão panorâmica de retrospecto que mescla-se com momentos diferentes e díspares da história cultural do país. Evitando qualquer rótulo ao longo da carreira, o ora classificado roqueiro, por outras poeta, Lobão (aliás, rótulos todos rejeitados pelo artista que reconhece-se apenas como um cantor e compositor de MPB) é um símbolo do movimento cultural popular pensante. "Escola" de onde vieram Renato Russo, Cazuza, Júlio Barroso, Falcão (Rappa), Nasi (ex-IRA) enfim geração esta que pude conhecer, ouvir e entender. A biografia de Lobão é um tratado sobre essa realidade de outros tempos e que "pega" nos dias atuais, onde a força do pensamento da elite cultural em destaque não serve para absolutamente nada!