quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

Pratos mortais.

"Caveirinha" na capa de livro sobre alimentos? Epa!? 
Enquanto as ruas e avenidas do Brasil "pipocavam" pessoas protestando pelos mais variados motivos, estava no meio de uma incursão mais difícil. O combate a própria ignorância que mesmo após quatro cursos superiores ainda incomoda a mente sobre conhecimentos que pelo menos dessem conta de parte das coisas que assolam nossa realidade. Fiz uma incursão autodidata na obra de Immanuel Kant. Filósofo racionalista do século 18 que introduz conjuntamente com outros pensadores as experiências de compreensão da realidade numa perspectiva mais crítica. Ler clássicos da Filosofia não é lá um parque de diversões, ainda que quando se faz boas descobertas, a sensação, é sim iguais as sentidas nas íngremes descidas de montanha russa. Mediante esta breve introdução e olhando novamente a ilustração deste post fica a pergunta. O que uma coisa tem a ver com a outra? Quero na realidade comentar uma das leituras mais indigestas feitas recentemente. Então vamos lá, dos estudos feitos sobre a obra de Kant, aprende-se que;  "o exercício da crítica se dá num plano de examinar a realidade, julgá-la e avaliá-la" Estabelecer os próprios limites e confrontá-los. O uso excessivo da razão é a ferramenta essencial para leituras de muitos textos atuais. Ou como o caro leitor assimilaria a comparação que a jornalista Marcia Kedouk faz com a cocaína equiparando-a ao açúcar e a farinha de trigo que ingerimos diariamente. Eis uma das várias indigestas constatações que são feitas no especial da Revista Super Interessante, Prato Sujo (Como a Indústria Manipula os Alimentos para Viciar Você), Abril Editora, 2013. A obra desbanca vários mitos com relação aos alimentos que são por muitos especialistas, separados em dois grupos distintos; os "saudáveis" e "não saudáveis." Pura balela se levarmos em conta as quantidades de açúcar, sódio e sal de cada um deles. Ninguém está imune. Do vegetariano "xiita" ao frequentador assíduo dos fastfoods, todos correm riscos com os desgastes do organismo com o que se ingere. Bem escrito e de fácil assimilação, o livro de Kedouk retoma na história da alimentação a falácia das dietas para emagrecer. Não há remédios ou fórmulas milagrosas para a perda de peso e sim o controle da quantidade do que é ingerido. Mas eis o atrito do cérebro com o corpo que ao longo da caminhada da humanidade, ainda tem registrado os dados de um tempo de miséria na oferta de alimentos que remonta a Pré História. Não sobra pedra sobre pedra no tema. Adoçantes que mais prejudicam do que favorecem as dietas. Produtos industrializados que tem em sua composição itens mais do que suspeitos. Propaganda enganosa em 10 em cada 10 embalagens de bolachas, doces e demais industrializados. O poder demoníaco dos refrigerantes que nos "dopam" de tanto açúcar, sem jamais matar a sede. Aliás, pelo contrário, sua composição a faz aumentar! Me lembrando dos filmes de suspense, dá pra imaginar que essa jornalista, hora dessas deve estar morando em algum país europeu. Das empresas de fastfood a indústria dos alimentos orgânicos, em tese mais saudáveis (leia o livro e verás!) ninguém escapa dos dados disponíveis pela ciência e reunidos numa obra simples, fácil de ler e com um certo tom irônico se conectado às leis kantianas. Óbvio que faço isso por conta. Ele não é citado no livro. Mas Kant, quando escreveu sua principal obra, A Crítica da Razão Pura (1781) observou que "primeiro se deve viver e, somente depois filosofar..." No caso deste livro, creio que primeiro deveríamos "filosofar" antes de "comer", para aí quem sabe "viver..." Alimentos viciam! A comparação do açúcar com a cocaína não é provocação teórica!


terça-feira, 24 de dezembro de 2013

Memórias do Gomes 4.


O texto abaixo foi divulgado para o Projeto Memórias (antigo CEFAM/Campinas) no ano 2000. Os professores divulgaram suas memórias do tempo de escola no Ensino Fundamental.

Texto para o Projeto Memórias;
Professor DJNI®

                        Grande parte de minha vida escolar no Fundamental passou-se no Colégio Carlos Gomes. Lá estudei da primeira até sétima série com direito a dois anos a mais que acabei “bombando” por falta de dedicação aos estudos. Aquela época foi tão importante em minha vida que até hoje sonho com aqueles anos gostosos que passei junto a colegas e amigos de escola, tão ou mais ingênuos que eu.

                        O prédio da escola está até hoje imponente no centro da cidade. Aquele estilo de construção imperial reserva internamente grandes corredores, janelas enormes e escadarias de madeira. São muitas recordações. Dona Alice na primeira série garantiu berros tão altos nos ouvidos de seus alunos que até hoje posso ouvi-los. Eram broncas homéricas pelos erros de escrita e leitura. A simpática senhora de cabelos tão armados e brancos alternava momentos de ternura e ira. Em algum ano desta época saí em uma foto do jornal anunciando o início do ano escolar. Na terceira série, a escola entrou em reformas e fomos transferidos para o prédio do Instituto Alan Kardec. Nossa professora chamava-se Dona Glenda. Não berrava, não gritava e jamais deu bronca em alunos apesar de merecerem. Era tão terna e meiga que ficávamos sem coragem de desrepeita-la. Foi a primeira professora a falar pra gente, sobre coisas que nossos pais jamais ousaram falar. Olha como é a memória da gente. Ela falou num dia nublado com muita chuva que as meninas jamais deveriam andar arcadas para frente para evitar que seus seios crescessem de forma errada. Puxa vida! Seios! Que professora corajosa! Aos meninos ela sugeria banho! Muito banho! Para ela não tinha coisa pior que homens fedidos. E a gente ia fazendo conexões... Meninas que crescem sem arcar as costas e ombros, tem seios bonitos e eles são nossos na medida que tomarmos banho... Dona Glenda nos marcou por essa e muitas outras. Ensinava com carinho, matemática, português e sentimentos pela vida e pelo corpo. A quarta série foi tão medíocre. Acabei repetindo o ano nem lembro porque. Mas aquela quarta série foi inesquecível. Descobri para que serviam aqueles longos corredores da escola Carlos Gomes. Achava que eles serviam para nos dar medo, para que a gente não ficasse passeando na escola. Na quarta série, a Roberta “coleguinha” de sala, alta e bonita. Mas na época achava que ela arcava as costas porque não tinha seios. Mas eu tomava muitos banhos. Foi o primeiro beijo após o final daquelas festinhas de final de ano com aqueles manjados “amigos secretos”.
Eu, 1972 de mala pronta para a grande jornada escolar.

                        Na quinta série, a adolescência mudou a visão das coisas. A escola virou “point”. Boa parte dos meus amigos além de mim, morávamos perto da escola e a quadra de basquete construída no final dos anos 70 virou nossa grande motivação para ir à escola. Adorava basquete. Mesmo gordinho era um “craque”. Pedi pra minha mãe em 1977 comprar um tennis All Star vermelho. Pra irritar os invejosos era chamado de “pés de tomate”. Volta e meia era “cestinha” dos nossos jogos que após as aulas iam até o anoitecer. O professor Renato de Ciência tinha cara de cientista mesmo. Tinha sotaque estranho, talvez vindo de algum país do leste europeu, exigia que suas aulas fossem no laboratório da escola. Fefeco era o professor de Educação Física. Me deixou várias vezes fora do time de basquete da escola em jogos fora, só porque era gordo e faltava confiança. Um dia com ele estreei minha rebeldia. O mandei para aqueles montes de excrementos conhecidos como fezes e fiquei meses de suspensão. Na festa junina de 1976, a gente era obrigado a dançar quadrilha. Meu par era a Ângela. Magrinha, medrosa e chorona. De última hora me colocaram com a Márcia. “Ousadinha” e mais confiante de si, acabei achando o máximo porque ela fazia parte daqueles colegas que todos admiram. E não é que a Ângela que foi dançar com o Messias fez xixi no meio da quadra diante de centenas de pessoas? Já adolescente não levava tão a sério as lições da dona Glenda da terceira série. Os seios das meninas cresciam independente de qualquer coisa. Tomávamos banho, mas nem tanto! Os interesses mudaram e de tanto mudar me fizeram esquecer de estudar para passar de ano na sétima. Maldita matemática! Dona Yaeko não teve dúvidas em dizer pra minha mãe que eu não sabia nada de matemática. Na nova sétima série em 1978 o professor Zé Roberto nos fez aprender matemática na marra. Para ele todo aluno que não aprendia sua matéria era um “lazarento” por natureza. Estudei tanto que tinha nota em setembro para ser aprovado, inclusive em matemática. Mudei de escola mas os anos de Carlos Gomes ficaram na memóriaeternamente!