Produzi uma série de textos sobre Boxe e Cinema em meu antigo blog donideias009, como já explicado tirados do ar juntamente com todos os outros blogs, administrados pelo portal IG. Parte dos textos eu tinha backupeado. Outra, como é o caso deste post, os reescrevo, como condição inegociável de eternização de tudo que aprendi sobre o tema.
As glórias do boxe ocultam a face mais cruel da vida de seus lutadores. O nocaute vem no round da idade e do esquecimento.
É óbvio que toda manifestação de violência tem uma natureza assustadora, por quem preza o bom senso e a passividade nas relações humanas. Principalmente quando tais "espetáculos" são eternizados pelas artes. O boxe enquanto esporte, apesar dos brutais contatos físicos, ganhou ao longo do século XX, um certo glamour. Os punhos de grandes nomes foram eternizados nos anais da História. Mesmo o mais alienado da área ouviu em algum momento de sua vida, nomes como Muhammad Ali, Jack Johnson, Rocky Marciano, Rocky Balboa, Foreman, Hollyfield, Lennox Lewis e Mike Tyson. Mas o reconhecimento de seus jabes, cruzados e nocautes vieram com a mesma velocidade com que repercutiram suas sofridas vidas. Mesmo em períodos onde os meios de comunicação não tinham a mesma rapidez dos dias atuais. Os conflitos religiosos de Ali, os problemas com a máfia dos lutadores famosos da primeira metade do século XX até os crimes punidos com prisão de Tyson, não faltam episódios. Robert "Rocky" Balboa, ao contrário do que muitos imaginam, não foi apenas um personagem de franquia levada aos cinemas por Sylvester Stallone. Balboa de fato existiu. Talvez no espírito de Rocky, uma centena de boxeadores tenham alternado suas vidas pelos ringues e em trabalhos pesados. Ajudantes em todas as profissões. Essenciais a si mesmos entre as cordas dos ringues. Os 6 filmes sobre Balboa renderam milhões de dólares a Stallone e segue uma cronologia de vida de um boxeador que sai do anonimato de um sombrio bairro da Filadélfia dos anos 70, vive seu auge nos anos 80 e entra em franca decadência nos anos 90. A finalização da série se dá com o lutador sexagenário, dono de um restaurante na periferia da mesma Filadélfia. Esquecido e doente, é manipulado pelos agenciadores de lutas, patrocinadores e por uma legião de párias que sempre ganharam muito dinheiro com o esporte, sem nunca terem pisado num ringue. Dinheiro, família, religião e conflitos sempre acompanharam a vida dos boxeadores famosos. Muhammad Ali, além de grande habilidade nos punhos, tinha uma língua feroz. Contestou fora das cordas seu ódio pelo racismo, seu inconformismo com a Guerra do Vietnã, tornando-se um ícone não apenas dos esporte mas da política do seu pais. "Nenhum vietcongue me chamou de crioulo, porque eu lutaria contra ele?". Poderia haver protesto maior contra o conflito? Sim, na recusa do alistamento para ir à guerra. Outro feito de Muhammad Ali. A luta do mesmo no então Zaire contra George Foreman foi outra grande manifestação política de Cassius Clay (nome real de Ali antes de sua polêmica conversão ao Islã). A luta contra Foreman em terras do continente africano, abriu uma fase de compreensão dos conflitos raciais nos EUA, mais tarde denominado pan-africanismo. O documentário "Quando Éramos Reis" (1974) é obrigatório para qualquer estudo que faça a fusão do boxe, da política e da personalidade de cada lutador. A imagem que ilustra este post, logo acima, trata de outra produção dos cinemas que busca no boxe novas dimensões para o que tratamos até aqui. Um repórter Erik envolve-se na vida de um homeless (sem-teto). Surge na mente do repórter o deslumbramento de em suas pesquisas a descoberta de que o indigente seja Bob Satterfield, uma lenda do boxe, que todos acreditavam estar morto. A imersão na vida do provável boxeador resgata para o repórter possibilidades de produzir uma grande matéria, resgatando a história de um campeão. O fascínio mescla-se com a farsa e com a idealização de que todo boxeador famoso termina seus dias após os maiores nocautes de suas vidas. O da idade e do esquecimento. Mas tais caminhos não são monopólio apenas dos boxeadores. Atingem também as vidas de pessoas "normais" como Tommy Kincaid, que um dia sonhou com os louros e as fortunas do boxe. Mas, encontrou a crueldade das dificuldades típicas a qualquer ser humano.
|
Nenhum comentário:
Postar um comentário