Por estar de férias em três dias "devorei" o Manifesto do Nada na Terra do Nunca, Lobão, Editora Nova Fronteira. Parte de um pacote de livros que programei ler neste mês insosso fora das salas de cinema, das estantes das livrarias e dos cantos de leitura domésticos. Pelas polêmicas causadas por ocasião do lançamento em maio, esperava bem mais do livro. Chiadeiras de Caetano Veloso, Mano Brown entre outros só potencializaram a curiosidade pelo livro. O estilão desbocado e sem freios do Lobão, sempre me chamaram a atenção, principalmente quando comenta a penúria da nossa cultura contemporânea. Em especial, a música. Esse lixo em que se transformou o que temos que aturar por aí. No programa Pânico da Rádio Jovem Pan, Lobão comprou uma batalha com fãs destes moleques que hoje se aventuram no sertanejo. Afirmou que este tipo de música causa "feridas no cérebro", incuráveis para sempre! Ótimo! A proposta do livro é legal. Questionar porque nos limitamos a tão pouco em tudo? Porque resultados pífios em tudo nos acalenta por auto nos proclamarmos o mais baixo dos povos? Porque toda complexidade é tão execrada? E eis que surge um roqueiro para levantar tais lebres. Nos capítulos introdutórios Lobão repete a exaustão alguns avisos; "Indefectíveis indagações," "É certo que muita gente vai criticar este livro só de orelhada, a partir de frases tiradas do contexto e de uma visão estereotipada do autor.""Quem é você, seu roqueiro, para falar de MPB, choro, bossa nova...!?" E por aí vai. Há muita polêmica. E selecionei alguns pontos para entrar nesta "doideira" conceitual a respeito dos pensamentos reinantes deste país. Digo pra todo mundo. "Esse país é um porre!" Os motivos são tantos. Para começar trabalho em Educação a vinte anos! Precisa mais? Abaixo os trechos que selecionei do livro. Não foram os mais polêmicos na mídia. Mas gostaria de comentá-los:
1 - Funk; "O funk carioca é uma das raras exceções, pois importou a batida do Miami sound e se apossou, em plena favela, de recursos eletrônicos, transformando o funk num grito de guerra, sexo, o mais genuíno estilo que o morro produz hoje em dia." (...) Alguns de vocês, podem pular da poltrona, ter um acesso apoplético, voar na minha carótida e vociferar: "Mas o funk é grotesco, sexista, violento, obsceno, tem letras horríveis, de articulação gramatical que beira a dialetos neolíticos (...)delírio a entoar cânticos guturais(...) - página 47 - Lobão aposta que o funk atual é a última das fronteiras com relação a música no Brasil, isenta de reinvenções por parte do intelectual de esquerda. Prefiro apostar que de fato o funk é uma fronteira. Mas para mim é o limite da sanidade musical. O funk dá fim a música no Brasil. Creio que como Lobão afirma a não reinvenção do ritmo se dá ao fato de ser um produto impossível de se recriar, tamanha porcaria que se configura. O estilo criou uma geração acéfala no que diz respeito a música. Tornou bossal uma geração inteira de jovens pela falta de rumo. É lixo Lobão. É lixo! Não tem jeito! Não há explicação conceitual que dê conta disso!
2 - Movimentos de rua; "As falcatruas mais escabrosas são expostas sem que haja algum tipo consistente de protesto, muito pelo contrário, os índices de aprovação ao governo só aumentam." - página 190 - Lançado em maio de 2013, nem o livro previu a onda de protestos pelo país. Verdade, "inconsistentes" na visão do autor. Mas que derrubaram a popularidade deste frágil governo. Agora o estilão "sem rumo" do movimento é fruto do que o autor vocifera no livro todo, nossa pobreza cada vez mais gritante em vários aspectos da nossa cultura letrada. Ou na Antropofagia conceitual de Oswald de Andrade?
3 - Roberto Freire; "(...) assim que um jornalista me perguntou em quem eu iria votar, respondi entusiasmado, sem titubear: no Roberto Freire! Imaginava Roberto Freire ser o famoso psiquiatra e escritor de livros que havia lido com sofreguidão, como o iconográfico Sem tesão não há solução, criador (...) lá vou eu me encontrar com o Roberto Freire, quando sofro um baque. Era outro Roberto Freire! (...) sem mais delongas, caio no colo do Partido Comunista Brasileiro!"
O livro tem outras passagens igualmente engraçadas. Mas faltou mais "porrada", principalmente em movimentos já criticados pelo roqueiro. Como por exemplo, o atual sertanejo. Malhar a política nacional tem sido lugar comum e neste aspecto o livro acrescenta, mas não inova. A mim particularmente, depois de um década de governo de "esquerda", "essa" esquerda eu não tenho mais dúvidas do engodo histórico que vivemos. De dentro de uma escola pública também escreveria meu Manifesto do Nada, com mais acidez e violência verborrágica. Mas Lobão é nosso Chaplin fora das telas de cinema. Polêmico e a frente do seu tempo. Conta-se nos dedos de uma mão nomes da cultura nacional que se aventuram ser "do contra" e se expor desta forma. Pudera o Brasil ter uma dúzia de Lobão a bater com força neste "porre" conceitual de país em que vivemos. Mas quando? Quem sabe quando o ensino público for descente e conseguir retirar 9 milhões de jovens e adolescentes das ruas, fora da escola ouvindo funk. Êca! Sugiro a leitura da entrevista do Lobão na Rolling Stone de maio. A achei muito mais polêmica do que o livro! Pelo menos mais direta, como por exemplo chamar Gilberto Gil de "canalha" sem milongas!