domingo, 15 de dezembro de 2013

Interatividade Reversa (Futebobos - Ed Especial)

Publicado no Facebook 14/12

BOMBA! BOMBA! ESCÂNDALO! Foto antiga revela que blogueiro que escreve contra o "esporte do povo" em posts denominados "Futebobos" jogou em time amador. Teu passado te condena "mané!" Descobrimos! Aproveitamos a puxamos a ficha do sujeito como "atleta". Nome do time que jogou: GRUNE (Grupo Nova Esperança) - Posição: lateral esquerdo - Quantidade de jogos: 1 - Gols marcados: 2 - Ano: 1989, agosto. Segundo nossos cronistas o blogueiro jogou uma partida, "solteiros X casados". Marcou dois gols no "seu" Germano. O goleiro de 60 anos pelo time dos casados. O segundo gol aos 18 minutos do segundo tempo foi de cabeçada. O zagueiro dos casados, seu Manoel foi bater o tiro de meta. Ao chutar a bola, a mesma encontrou a cabeça do nosso blogueiro nervosinho. Dois a zero pros solteiros! kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
Agosto de 1989. Jogo comemorativo do II Encontro de Casais com Grupo de Jovens/Sta Mônica - Clube Particular. "Atleta" circulado na foto é o autor da série Futebobos.
Carregada de ironia, o post acima publicado em uma grande rede social, trás a tona o eixo desta pequena teoria. De onde vem tamanha antipatia por algo que é tão popular? Ainda mais de alguém que se apresenta como esclarecido e definido socialmente como educador. A responsabilidade vem do amadurecimento e da mais "perigosa" das ações na vida de uma pessoa. A leitura. O antropólogo uspiano Luiz Henrique de Toledo, em um dos volumes da coleção Descobrindo o Brasil, define bem em "No País do Futebol (2000)." (...) "E é dessa paradoxal falta de consenso que se articular uma identidade negociada e sempre inacabada, diversa de algo tomado como estático ou universalizante. Mais do que um mero espetáculo consumível, o futebol consiste num fato da sociedade, linguagem franca de domínio público (...) que reencanta a dimensão da vida cotidiana através da estética singular." Trata-se da conclusão do livro. Em busca de uma definição para o futebol, o autor encontra na pluri diversidade de seus conceitos, até a possibilidade de odiá-lo como dimensão compreensiva cotidiana. Em meu caso especificamente, associaria a paixão pelo esporte, por algum time e pela seleção como uma manifestação infantil, imatura e desapegada de um complexo conhecimento de mundo. Ou seja, na medida em que fui me tornando adulto, ganhando gosto pela leitura e pela paixão dos estudos, o futebol inseriu-se numa sub dimensão cotidiana. Flagrando fanatismos diversos de torcedores, a incorporação da corrupção ativa no esporte assim como na política, descobre-se que não há o purismo das cores dos times e tão pouco na singeleza das jogadas dos gênios. Nos anos 80, um escândalo envolvendo arbitragem revelou um esquema vergonhoso de compra de resultados de times do porte do Atlético do Paraná e do Corínthians. E vieram as frescuras dos "gênios indomáveis" da Copa de 1994 como Zagalo e Romário. Do histerismo descontrolado do Galvão Bueno narrando os jogos da seleção. No início da década passada novos escândalos envolveram o Rei Pelé e suas empresas na compra de exclusividade de patrocínios. Bem como as armações da Fifa, então comandada por brasileiros. Ainda segundo Luiz Henrique de Toledo, a intensa massificação do esporte via mídia fez com que; "o futebol se projetasse como um esporte de grande apelo popular." Eis outro ponto de distensão com minha antiga paixão pelo esporte. Brigas e mais brigas entre torcidas. Mortos nos estádios. Pouca ou nenhuma alteração no quadro tendo em vista as cenas chocantes entre o mesmo Atlético do Paraná e o Vasco. Inserido até o pescoço da cultura popular, o futebol deixou-se desnudar na vida pra lá de "profana" de seus ídolos. Na realidade, homens normais que se tornam de um dia para outro, milionários em razão do esporte inebriam-se na doce vida com várias mulheres, carros, fama e baladas. Esse mundo não é o meu. Passei a detestá-lo e faço sim propaganda contra. Da comparação do "Pão e Circo" onde a inconsciência coletiva dos romanos era sim manipulada pelo poder vigente, creio que hoje o brasileiro reconhece também todas essas mazelas do esporte. Não se desvincula pelo fato do tema ser agregador nas mesas de boteco, nos almoços de domingo, nos aniversários de buffet infantil onde a pobreza intelectual e o abandono da escola e dos estudos, permite mesmo apenas esses papinhos furados sobre o que ocorre dentro e fora dos gramados. Fecho este texto com outra citação de Toledo; "É como se ele conferisse à identidade nacional uma marca indelével, inscrevendo no corpo e na alma de milhões de brasileiros seu ritmo e sua temporalidade, sua estética, sua beleza e um determinado sentimento "diagonal" (...) Verdade mesmo Toledo, por essas e outras que somos tão obtusos na compreensão de nosso país. É mais fácil tecer uma teoria de porta de botequim sobre o time "x", "y" do discorrer sobre um teórico, filósofo, historiador ou qualquer outro cientista, porque nunca se leu nada a respeito, pouco interessa e causa um tremendo mal estar. 
O gosto pela leitura e a compreensão madura dos fatos foi o que acendeu meu senso crítico. Não vejo, não torço e não acho nada normal qualquer tipo de "fanatismo" envolvendo coisas do futebol.


Nenhum comentário:

Postar um comentário