O texto abaixo foi divulgado para o Projeto Memórias (antigo CEFAM/Campinas) no ano 2000. Os professores divulgaram suas memórias do tempo de escola no Ensino Fundamental.
Texto para o
Projeto Memórias;
Professor DJNI®
Grande parte de minha
vida escolar no Fundamental passou-se no Colégio Carlos Gomes. Lá estudei da primeira até
sétima série com direito a dois anos a mais que acabei “bombando” por falta de
dedicação aos estudos. Aquela época foi tão importante em minha vida que até
hoje sonho com aqueles anos gostosos que passei junto a colegas e amigos de
escola, tão ou mais ingênuos que eu.
O
prédio da escola está até hoje imponente no centro da cidade. Aquele estilo de
construção imperial reserva internamente grandes corredores, janelas enormes e
escadarias de madeira. São muitas recordações. Dona Alice na primeira série
garantiu berros tão altos nos ouvidos de seus alunos que até hoje posso
ouvi-los. Eram broncas homéricas pelos erros de escrita e leitura. A simpática
senhora de cabelos tão armados e brancos alternava momentos de ternura e ira.
Em algum ano desta época saí em uma foto do jornal anunciando o início do ano
escolar. Na terceira série, a escola entrou em reformas e fomos transferidos
para o prédio do Instituto Alan Kardec. Nossa professora chamava-se Dona
Glenda. Não berrava, não gritava e jamais deu bronca em alunos apesar de
merecerem. Era tão terna e meiga que ficávamos sem coragem de desrepeita-la.
Foi a primeira professora a falar pra gente, sobre coisas que nossos pais
jamais ousaram falar. Olha como é a memória da gente. Ela falou num dia nublado
com muita chuva que as meninas jamais deveriam andar arcadas para frente para
evitar que seus seios crescessem de forma errada. Puxa vida! Seios! Que
professora corajosa! Aos meninos ela sugeria banho! Muito banho! Para ela não
tinha coisa pior que homens fedidos. E a gente ia fazendo conexões... Meninas
que crescem sem arcar as costas e ombros, tem seios bonitos e eles são nossos
na medida que tomarmos banho... Dona Glenda nos marcou por essa e muitas
outras. Ensinava com carinho, matemática, português e sentimentos pela vida e
pelo corpo. A quarta série foi tão medíocre. Acabei repetindo o ano nem lembro
porque. Mas aquela quarta série foi inesquecível. Descobri para que serviam
aqueles longos corredores da escola Carlos Gomes. Achava que eles serviam para
nos dar medo, para que a gente não ficasse passeando na escola. Na quarta
série, a Roberta “coleguinha” de sala, alta e bonita. Mas na época achava que
ela arcava as costas porque não tinha seios. Mas eu tomava muitos banhos. Foi o
primeiro beijo após o final daquelas festinhas de final de ano com aqueles
manjados “amigos secretos”.
Eu, 1972 de mala pronta para a grande jornada escolar. |
Na quinta série, a
adolescência mudou a visão das coisas. A escola virou “point”. Boa parte dos
meus amigos além de mim, morávamos perto da escola e a quadra de basquete
construída no final dos anos 70 virou nossa grande motivação para ir à escola.
Adorava basquete. Mesmo gordinho era um “craque”. Pedi pra minha mãe em 1977
comprar um tennis All Star vermelho. Pra irritar os invejosos era chamado de
“pés de tomate”. Volta e meia era “cestinha” dos nossos jogos que após as aulas
iam até o anoitecer. O professor Renato de Ciência tinha cara de cientista
mesmo. Tinha sotaque estranho, talvez vindo de algum país do leste europeu,
exigia que suas aulas fossem no laboratório da escola. Fefeco era o professor
de Educação Física. Me deixou várias vezes fora do time de basquete da escola
em jogos fora, só porque era gordo e faltava confiança. Um dia com ele estreei
minha rebeldia. O mandei para aqueles montes de excrementos conhecidos como
fezes e fiquei meses de suspensão. Na festa junina de 1976, a gente era
obrigado a dançar quadrilha. Meu par era a Ângela. Magrinha, medrosa e chorona.
De última hora me colocaram com a Márcia. “Ousadinha” e mais confiante de si,
acabei achando o máximo porque ela fazia parte daqueles colegas que todos
admiram. E não é que a Ângela que foi dançar com o Messias fez xixi no meio da
quadra diante de centenas de pessoas? Já adolescente não levava tão a sério as
lições da dona Glenda da terceira série. Os seios das meninas cresciam
independente de qualquer coisa. Tomávamos banho, mas nem tanto! Os interesses
mudaram e de tanto mudar me fizeram esquecer de estudar para passar de ano na
sétima. Maldita matemática! Dona Yaeko não teve dúvidas em dizer pra minha mãe
que eu não sabia nada de matemática. Na nova sétima série em 1978 o professor
Zé Roberto nos fez aprender matemática na marra. Para ele todo aluno que não
aprendia sua matéria era um “lazarento” por natureza. Estudei tanto que tinha nota em
setembro para ser aprovado, inclusive em matemática. Mudei de
escola mas os anos de Carlos Gomes ficaram na memóriaeternamente!
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