segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Futebobos Reloaded

O querido leitor poderá conferir em meu blog anterior, Donideias09, a seqüência de 15 mensagens onde desanco toda minha bronca com o senso comum que faz a "alegria das massas." Refiro-me ao gosto popular pelo futebol. A ponto de se parar um país, suspender serviços essenciais e horas de trabalho para acompanhar os jogos da seleção. São infindáveis os argumentos. Muitos leitores comentaram a série Futebobos, e claro, enraivecidos com tamanha ousadia no assumir tal posição, argumentaram entre outros pontos que; "trata-se de um esporte genuinamente nacional", "sempre foi assim e sempre será..." Nestas horas é bom recorrer às nossas leituras. Ler talvez seja o ato que mais nos proporciona liberdade de pensamento. Podemos fugir dos sensos comuns reinantes e indagarmos opiniões prontas. Já fui moleque. Chorei em frente à TV quando a seleção perdia ou voltava para casa em Copas do Mundo. Mas tamanha alienação vinha da falta de orientação e senso crítico. Pudera ter um professor crítico, um amigo mais do "contra" e quem sabe não "perderia" meu tempo com coisas mais gostosas na adolescência. Meninas por exemplo... Bem, mas voltemos ao atual. O Guia Políticamente Incorreto da História do Brasil do jornalista Leandro Narloch, Leya Editora, é um recordista de vendas de livros na atualidade. Está a mais de 50 semanas entre os  dez mais vendidos. Deve ter batido os 150.000 exemplares vendidos. Foi lá que encontrei algumas informações muito boas para mostrar que a caracterização do futebol como marca da identidade brasileira é pura balela. Talvez, sei lá, coisa da TV na medida em que neste esporte encontrou infinitos horizontes de lucros. O autor do Guia, Leandro Narloch situa bem a chegada do futebol no Brasil. Por ocasião da Guerra contra o Paraguai (1864 - 1870), muitos operários ingleses chegaram no cone sul americano para implantar indústrias e ferrovias. Trouxeram junto o esporte bretão. Mas intelectuais surgidos no país décadas mais tarde, como Graciliano Ramos em 1920, chamava o futebol de "onda passageira" por "jamais combinar com o jeito bronco do brasileiro." Escreveu em uma coluna de jornal que "Não é que me repugna a introdução de coisas (futebol) exóticas entre nós (...) não seria porventura, melhor exercitar-se a mocidade em jogos nacionais, sem mesclas e estrangeirismos (...)." Nos anos vinte do século passado portanto, o futebol era atividade puramente estrangeira e elitista. Só na década de 50 com a Copa, perdida pela seleção brasileira é que se popularizou o esporte! O cômico é que o mesmo Graciliano Ramos propunha coisas tão estranhas quanto o que considerava o futebol. em outra coluna de um jornal gaúcho, o autor propôs;

"Reabilitem os esportes regionais, o cachação, a queda de braço, a corrida a pé, tão útil a um cidadão que se dedica ao arriscado ofício de furtar galinhas, a pega de bois, o salto, a cavalhada e, melhor que tudo, o cambapé, a rasteira. A rasteira! Este sim, é o esporte nacional por excelência!"

Na profusão de construção da identidade nacional, o esporte configura sem dúvida nenhuma um capítulo essencial para entender certos comportamentos sociais. Violência, alienação de massa e culto excessivo a ídolos do esporte são explicados pela construção histórica. Há excelentes artigos de Nelson Rodrigues que propõem esse debate. Ou por onde entenderíamos o "espírito de vira lata" que o próprio Nelson Rodrigues encontrou em toda Copa do Mundo?

Fontes:  Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil, Leandro Narloch, Leya.
                  A Pátria em Chuteiras, Novas Crônicas de Futebol, Nelson Rodrigues, Companhia das Letras. 

Um comentário:

  1. A única ideia errada que o Graciliano Ramos teve,foi a de achar que o futebol era uma "onda passageira" pois ele está ai até hoje!

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